Adolescência. Se você (ainda) não assistiu, com certeza já ouviu falar. O fenômeno é mundial. Eu, Patricia, ainda estou digerindo. A série gravada em quatro planos-sequência é um primor. Não busca trazer solução simples para questão complexa, mas sim colocar o elefante na sala. E aqui, nesse espaço sobre bem-estar e saúde mental, eu não trago mais uma análise sobre o tema – há especialistas com muito mais contexto e conhecimento que eu fazendo isso bravamente nos sites e redes sociais. Trago o que pretendo fazer dentro do meu microcosmo de mãe de um pré-adolescente. Espero que contribua para a jornada individual de cada um de vocês.
Por que o problema é tão complexo?
A série Adolescência não é apenas sobre os perigos do mundo digital. Ela mostra como a educação machista, a falta de diálogo e a hierarquia abusiva dentro de casas e escolas “criam” adolescentes machistas e misóginos. Muitos pais repetem padrões – "homem não chora" ou “meninas são frágeis" –, perpetuando uma cultura que sufoca emoções. Quando o diálogo é substituído por ordens, os filhos se afastam. E aí as telas “brilham”: pais exaustos delegam a educação emocional a algoritmos, enquanto crianças mergulham em redes sociais sem regulamentação, com discursos de ódio, fake news e misoginia viralizando como memes.
O resultado? Uma geração que aprende a reproduzir comportamentos tóxicos como se fossem normais. Os meninos são “presas fáceis” de uma cultura que glorifica a violência, objetifica mulheres e ridiculariza a vulnerabilidade. Por isso é sobre eles - os meninos- essa conversa.
O que podemos fazer para mudar o rumo dessa história?
1) Sermos modelo
Meninos aprendem pelo exemplo. Se a gente critica o corpo alheio, faz piadas machistas ou ignora opiniões de outras mulheres, eles internalizam isso. É importante que a gente valorize habilidades além da aparência e corrija comentários desrespeitosos – mesmo os "inocentes". Em casa com filhos e filhas, é importante dividir as tarefas igualmente e deixar claro que não existe "ajudar a mãe", e sim cumprir responsabilidades.
2) Criarmos espaço para diálogo – sem julgamentos
A cena em que o pai da série grita com o filho é dolorosa, mas real. E a gente deve tentar ir pelo caminho oposto, estabelecendo momentos para a criança ou adolescente falar sobre seus medos, inseguranças e até temas mais delicados, como sexualidade ou drogas. Muitas vezes, o silêncio não é falta de interesse, é medo de ser ridicularizado mesmo.
3) Ensinar o adolescente a questionar o que vê nas telas
Não adianta proibir, mas dá para “guiar o olhar”. Pelo menos de vez em quando, a gente deveria assistir a vídeos, séries e jogos com o filho e perguntar: "Por que essa personagem está sem camisa o tempo todo?" ou "Você acha justo como trataram ela aqui?". Vale até uma “mini aula” sobre como os algoritmos promovem conteúdos extremistas para gerar engajamento. E mostrar fontes seguras de informação. Quem sabe até incentivar sigam perfis que valorizem mulheres reais – como cientistas, atletas, artistas.
4) Incentivar a empatia – até quando é difícil
Meninos são ensinados a esconder sentimentos. Por isso deveríamos estimular o exercício de se colocar no lugar das outras pessoas: "Como você acha que sua irmã/amiga se sentiu quando você fez isso?" ou "O que faria se visse seu amigo humilhando uma menina?". E vale também elogiar atitudes gentis e colaborativas, não só conquistas individuais.
5) Mostrar que “ser homem” é um conceito bem amplo e individual
A sociedade mostra um único modelo de masculinidade: o "durão". Apresente outros: homens que cozinham, cuidam de filhos, choram em filmes, lutam por causas feministas. Conte histórias de homens admiráveis que desafiaram estereótipos. Se ele não vê alternativas, como saber que existe escolha?
Adolescência escancara que estamos falhando e aprendendo. Nós aqui, se quisermos meninos que respeitem mulheres, precisamos desmontar, tijolo por tijolo, a estrutura que os ensina a dominar – e não a colaborar. Isso inclui pressionar escolas por debates, exigir regulamentação para redes sociais e apoiar iniciativas bacanas.
Enquanto a coisa não muda, sigamos fazendo nossa parte. Um dia de cada vez, uma conversa de cada vez. O tema é urgente, e o problema é de todos nós, e não só de mães, pais e cuidadores. Vamos juntos nessa?